Juan Pujol García: o espião que enganou os nazis

 

Juan Pujol García

Muitos conhecem, certamente, o famoso desembarque aliado nas praias da Normandia, ou Dia-D (6 de junho de 1944). O que muitos, no entanto, desconhecem, é a história do homem cujos contributos para o sucesso da invasão foram imprescindíveis. O seu nome de código? GARBO.


Quem foi Juan Pujol García?

Nasceu em 1912, em Barcelona e lutou, com relutância, na Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Chegou a apoiar ambos os lados do conflito e, segundo o próprio Pujol, não disparou uma única bala. Na guerra, digladiaram-se as tropas falangistas (apoiantes de Franco, que viria a ser ditador de Espanha) e as tropas republicanas, constituídas por socialistas e comunistas e apoiadas pela União Soviética. Apercebendo-se do caos que a guerra gerara no seu país, Pujol forjou ódio, tanto pelos fascistas, como pelos comunistas, jurando a si mesmo que iria fazer uma contribuição para o bem da humanidade.

 

Caminho até ao MI6

Assim, em 1941, durante a segunda guerra mundial, Pujol decidiu contactar as autoridades britânicas, oferecendo-se para espiar contra a Alemanha Nazi. Tentou-o três vezes, tanto em Madrid, como em Lisboa, mas a sua proposta foi recusada em todas as tentativas. Mas Pujol não desistiu. Em vez disso, ele contactou com os serviços secretos alemães em Madrid oferecendo-lhes os seus serviços e, contrariamente aos ingleses, os alemães aceitaram a sua proposta.


Mapa da Europa no apogeu da expansão Nazi (azul)



Então, os alemães deram-lhe aulas de espionagem, ordenando-lhe que, em seguida, fosse para a Grã-Bretanha e aí estabelecesse uma rede de espiões que lhe fornecessem informações sobre as actividades britânicas. Mas, como as verdadeiras intenções de Pujol nunca foram ajudar os nazis, foi para Lisboa e voltou a tentar contactar os ingleses.

Ele realmente começou a criar uma rede de sub-agentes falsos. Em Lisboa, muniu-se de guias turísticos da Grã-Bretanha e livros sobre a Royal Navy britânica, de modo a tornar os relatórios que entregava aos nazis mais credíveis.

No entanto, Pujol nunca tinha estado no Reino Unido e, por isso, cometeu alguns erros factuais. Um deles foi ter reportado aos alemães que, em Glasgow, na Escócia os homens "faziam tudo por um litro de vinho". Teve sorte, pois os alemães também não sabiam qual era a bebida favorita dos escoceses.



Atual sede do MI6, em Londres


Nome de código GARBO

Em 1942, conseguiu finalmente chamar à atenção do MI6 e foi chamado a Londres. Aí desenvolveu a sua rede de espiões falsos em conjunto com os serviços secretos. Foram um total de 27 sub-agentes, todos com a sua própria história de vida e descrições minuciosas, para que tudo parecesse mais real. Ele escreveu 315 cartas, com mais ou menos 2000 palavras cada, sempre com um estilo de escrita que um fanático nazi utilizaria. Claro que todas as cartas estavam cheias de informações falsas. Na verdade, os alemães receberam tanta informação desencorajadora de Pujol que desistiram de tentar invadir as ilhas britânicas.

Nos serviços secretos ingleses, Pujol recebeu o nome de código Garbo, uma referência à famosa actriz de cinema Greta Garbo, devido à sua capacidade de representação, que conseguiu fornecer informações falsas aos nazis.

Preparação para o Dia-D

Em janeiro de 1944, os nazis informaram Garbo de que esperavam uma invasão aliada do continente europeu e que queriam que investigasse o assunto. As suspeitas dos alemães eram certas, pois sobre o nome de Operação Overlord, os Aliados planeavam uma invasão dos territórios europeus ocupados pelos nazis. O que os alemães não sabiam era que o inimigo preparava, ao mesmo tempo, uma campanha de informações falsas e engano, sob o nome de Operação Fortitude.

Para que a campanha fosse um sucesso, os Aliados sabiam que deveriam enganar os alemães sobre o ponto onde se iniciariam os desembarques. Uma vez decidido que o ataque começaria pelas praias da Normandia, o objectivo seria fazer o Comando militar Alemão acreditar que o desembarque seria, em vez disso, em Pas de Calais (local de que o próprio Hitler suspeitava).






Os Aliados pensavam ainda que, mesmo depois do ataque ter começado, Garbo iria informar os alemães que o ataque nas praias da Normandia era um embuste e que o verdadeiro ataque seria em Pas de Calais.

Para mostrar ao Comando Militar Nazi de que os ataques estavam a ser preparados para Calais, o 1º Grupo do Exército dos EUA montou um "exército fantasma". Este consistia em 11 divisões não existentes (150,000 homens) sob o comando do General George S. Patton. Foram usados tanques e jipes insuflados e até mesmo efeitos sonoros e transmissões de rádio para tornar o exército fantasma mais realista. E o melhor: os alemães não suspeitaram de nada.


Tanque insuflado do "exército fantasma"

Finalmente, e para que Garbo ganhasse a confiança absoluta dos nazis, Pujol transmitiu uma mensagem urgente ao Comando Alemão, às 3:00h do dia do ataque, dizendo que os aliados iam começar a invasão, que realmente se iniciou poucas hortas depois. Mas era tarde demais para o exército alemão se conseguir mobilizar em massa para as praias da Normandia.

Os serviços secretos alemães nunca descobriram que Garbo era um agente duplo. Pujol chegou a receber a Cruz de Ferro, um dos melhores prémios militares da Alemanha, por serviços prestados ao Reich.


Vida pós-guerra

Depois do fim da guerra, em 1945, Garbo continuou a trabalhar no MI5, para investigar uma possível ressurreição do Reich na Alemanha. Depois disso, Pujol queria afastar-se da Europa e de todas as memórias da guerra e, por isso, decidiu ir para a Venezuela. No entanto, e como a Venezuela era um dos destinos preferidos dos nazis que fugiram da Europa, Pujol achou que deveria fazer com que todos acreditassem que estava morto.

Assim, em 1948, contactou o seu colega de trabalho no MI5 Tom Harris e pediu-lhe que informasse toda a gente de que tinha morrido de malária, em Angola. A notícia espalhou-se e, então, o embaixador britânico em Madrid informou o governo espanhol da sua morte. A notícia chegou à primeira mulher e filhos de Pujol, em Espanha. Pujol deixou crescer a barba e começou a usar óculos para que não fosse reconhecido.


Juan Pujol García (Venezuela)


Pujol conseguiu manter o seu segredo até aos anos 80, quando o escritor britânico, Nigel West, teorizou que ele não tinha morrido e começou uma investigação até o encontrar na Venezuela. Assim, García voltou para a Europa, reencontrando os seus filhos e mulher, que sempre suspeitou que ele estava vivo.

A maioria dos agentes duplos que se encontram na história, exerciam a sua profissão apenas por dinheiro. No entanto, Juan García fê-lo, desde o início, pelos ideais que construiu durante a Guerra Civil Espanhola. Os serviços de espionagem que prestou permitiam-lhe lutar por eles, aproveitando o facto de ser um excelente actor e mestre na arte do improviso.

Faleceu em 1988 e, desta vez, foi a sério.


Vídeo sobre o tema (em inglês):





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