De forma a comemorar o 75º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial na Europa (8 de maio de 1945), decidi escrever sobre este tema. No entanto, irei abordar um assunto que, apesar de não ser falado com frequência, ameaçou a posição neutra de Portugal e Espanha na 2ª Guerra: A Operação Félix.
Depois do sucesso alcançado na Europa Ocidental pelo exército alemão em 1940, resta apenas uma nação que faz frente a Hitler: a Grã-Bretanha. No entanto, mesmo estando ela sozinha, os generais alemães sabem que tentar invadir a ilha seria uma tarefa arriscada e que não serviria os interesses da Alemanha (que, na verdade, era a União Soviética). Por isso, propõem a Hitler que se ocupe Gibraltar, o território inglês na Península Ibérica, naquilo a que se veio a chamar Operação Félix. Isso garantiria o controlo do tráfego no Mediterrâneo por parte da Alemanha e impediria o acesso britânico às suas colónias pelo Canal do Suez.
No entanto, existiam alguns entraves a esta estratégia. Primeiro, uma invasão de Gibraltar exigiria que Espanha, sob o comando do ditador Francisco Franco, autorizasse a passagem do exército alemão pela Península. Na altura, Espanha era um país neutro (mas simpatizante de Hitler) que acabara de sair de uma devastadora guerra civil, sem vontade de entrar num novo conflito. Além disso, as condições impostas pelos espanhóis para entrarem na guerra era passarem a ter controlo de Gibraltar e de Marrocos, o que não foi aceite por Hitler.
Operação Félix |
Havia um outro problema: assim que o exército alemão cruzasse os Pirenéus, os britânicos poderiam avançar e ocupar outras posições estratégicas no atlântico, como as ilhas Canárias, o arquipélago dos Açores e até mesmo Portugal continental. Por isso, os alemães realizaram planos para ocupar estes arquipélagos e invadir Portugal ocupando os principais portos do país.
Isto apenas seria realizado se os espanhóis cooperassem. Hitler recusara atender as exigências territoriais de Franco, porque, entregando Marrocos a Espanha, provavelmente iria perder o seu aliado francês, o marechal Pétain, que governava a França de Vichy, uma zona francesa leal a Hitler (era mais como um "Estado fantoche"). Por outro lado, Gibraltar era uma zona estratégica, que a Alemanha não tencionava entregar aos espanhóis.
Hitler e o seu aliado francês, o marechal Pétain |
Acima de tudo, havia o problema da entrada dos EUA na guerra caso a Alemanha invadisse as ilhas atlânticas e a incapacidade da marinha alemã de manter posição nestes arquipélagos por muito tempo, devido à superioridade da marinha inglesa. O facto de que Hitler queria iniciar o mais rapidamente possível a invasão à União Soviética, também contribuiu para o abandono da Operação Félix.
Na verdade, a opção de Hitler não ter capturado Gibraltar de alguma forma, veio a revelar-se prejudicial para as tropas alemãs que combatiam no Norte de África, já que desse território britânico poderiam ser enviadas tropas, que dificultariam as pretensões alemãs na região.
Mapa da invasão aliada do Norte de África |
Resumindo, a neutralidade portuguesa na 2ª guerra esteve, por momentos, ameaçada. As razões que levaram ao abandono da Operação Félix por parte da Alemanha Nazi foram as exigências territoriais de Franco em troca da sua entrada na guerra, a incapacidade de manter posições nos arquipélagos atlânticos, devido a uma superioridade britânica, o medo da entrada dos EUA no conflito e, por fim, a pressa que Hitler tinha de iniciar uma invasão à União Soviética.
João Vidal
3 Comentários
This blog is very interesting indeed!
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarMuito interessante... não conhecia esta parte da história da 2da guerra mundial.
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