Toda a verdade sobre a Origem da Guerra às Drogas nos EUA (inacreditável) - História

 

Antes das décadas de 1920 e 30 já existiam algumas leis municipais e estaduais nos Estados Unidos que proibiam algumas drogas, mas a histeria em relação a estas substâncias a nível nacional só veio nos anos 30 com um homem chamado Harry Anslinger.



Harry Anslinger


 

Harry Jacob Anslinger (1892-1975) foi um funcionário do governo dos Estados Unidos que serviu como primeiro comissário do Departamento Federal de Narcóticos do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos durante as presidências de Hoover, Roosevelt, Truman, Eisenhower, e Kennedy. Ele foi um apoiante da proibição de drogas, ao mesmo tempo que difundia campanhas de política contra elas, particularmente a marijuana.


 

Anslinger não tinha estado ativo neste processo até aproximadamente 1930. Antes do fim da proibição do álcool, ele tinha afirmado que a canábis (ou marijuana) não era um problema, não prejudicava as pessoas, e "provavelmente não há falácia mais absurda" do que a ideia de que torna as pessoas violentas. Os seus críticos argumentam que ele mudou para se tornar contra a marijuana, não por causa de provas objetivas mas por interesse próprio, devido à obsolescência do Departamento de Proibição que encabeçou quando a proibição do álcool cessou. Então, para justificar novas verbas federais para o seu departamento, decidiu fazer campanha para a proibição da canábis.






 

O termo "marijuana" surgiu (em parte com a ajuda de Anslinger) como uma forma de manipular a opinião popular sobre este tema. Antes desta histeria contra droga, canábis ou cânhamo (as mesmas plantas que a marijuana, mas com um nome diferente) podiam ser encontradas numa drogaria normal para fins medicinais. Ao mudar o seu nome para marijuana, o público iria achar que era uma droga diferente. Por outro lado, a marijuana era o nome usado pelos mexicanos para se referir a esta planta, que era sobretudo consumida por eles nos Estados Unidos. Assim, Anslinger  usou esse termo, para associar este tipo de droga a um grupo étnico. Isto veio como suspeita de que Anslinger também era motivado por propósitos racistas.

 

 

Anslinger recolheu histórias duvidosas, que retratavam a marijuana como causadora de crime e violência, ignorando provas contrárias como as oferecidas pelo Doutor Walter Bromberg, que salientou que nenhuma das 2.216 condenações criminais que tinha examinado estava claramente ligada à influência da marijuana. Ou mesmo uma discussão que lhe foi transmitida pela Associação Médica Americana, na qual 29 dos 30 farmacêuticos e representantes da indústria farmacêutica se opuseram às suas propostas de proibição da marijuana.


 

“Está a entrar neste país às toneladas - o veneno mortal e terrível que rebenta e rasga não só o corpo, mas também o próprio coração e a alma de cada ser humano. Marihuana é um atalho para o asilo de loucos. Fume cigarros de marijuana durante um mês e o que outrora foi o seu cérebro não será senão um armazém de espetros horrendos. Hasheesh faz do homem manso um assassino que mata por amor a matar.”

-Anslinger (tradução livre)

 

 

Como se pode ver nesta citação, Anslinger estava a tentar persuadir o público com sensasionalismo, e a tentar associar a marijuana à violência e aos danos cerebrais, sem qualquer apoio de provas científicas. Um dos aliados de Anslinger na sua campanha contra as drogas foi William Randolph Hearst, um proprietário de jornais, que se tornou famoso por dominar uma espécie de jornalismo chamado ”Yellow journalism”. O ”Yellow journalism”  estava essencialmente focado em fabricar notícias falsas e sensacionalismo.



William Randolph Hearst



 

Anslinger usou uma história da The American Magazine que dizia respeito a um homem chamado Victor Licata que matou a sua família:


“Uma família inteira foi assassinada por um jovem viciado na Florida. Quando os oficiais chegaram a casa, encontraram o jovem (Victor Lacata) a cambalear num matadouro humano. Com um machado, matou o seu pai, a sua mãe, dois irmãos e uma irmã. Parecia estar num estado de atordoamento.(...) Agora ele estava lamentavelmente louco. Eles procuraram a razão. O rapaz disse que tinha tido o hábito de fumar (...) marijuana.”

 

Tentava evidentemente associar o uso da marijuana a crimes violentos, afirmando que o seu consumo causou tais crimes.


 

Essa história é um dos 200 crimes violentos que foram documentados na série "Gore Files" de Anslinger. Está desde então provado que Licata assassinou a sua família devido a uma doença mental grave (que tinha sido diagnosticada no início da sua juventude), e não devido ao uso de canábis. Os investigadores provaram que Anslinger atribuiu erradamente 198 das histórias "Gore Files" ao uso de marijuana e os restantes "dois casos não puderam ser refutados, porque não existiam registos relativos aos crimes".


 

Estudantes de cor na Univ. de Minn. a festejar com estudantes (brancas) do sexo feminino, a fumar [marijuana] e a obter a sua simpatia com histórias de perseguição racial. Resultado: gravidez.

Dois negros pegaram numa rapariga de catorze anos e mantiveram-na durante dois dias sob a influência do cânhamo. Após a recuperação, descobriu-se que ela sofria de sífilis.

A Canábis faz os negros pensarem que são tão bons como os homens brancos.


-Anslinger 



Algumas frases em artigos de Anslinger sobre anti-marijuana e racismo. Isto mostra o quanto o racismo fez parte das origens das políticas da Guerra contra a Droga.




 

Felizmente para Anslinger, a Marihuana Tax Act de 1937 foi aprovada. Agora, para que alguém legalizasse a sua posse de marijuana, tinha de pedir autorização às autoridades locais e pagar um imposto sobre ela. Contudo, para obter essa permissão, as pessoas tinham de mostrar a marijuana que estavam a tentar legalizar. O que não fazia o menor sentido é que as autoridades prenderiam, então, essa pessoa por ter marijuana sem autorização, o que era basicamente um ato de auto-incriminação.





 

Anos mais tarde, um professor chamado Timothy Leary foi preso por ter sido encontrado com charros de marijuana. Ele foi levado a tribunal, no que ficou conhecido como o caso Leary vs. Estados Unidos, e defendeu-se dizendo que a Marihuana Tax Act forçou a auto-incriminação, e portanto foi uma violação da Quinta Emenda da Constituição americana. Leary ganhou o caso, e a partir daí essa Lei perdeu a sua eficácia jurídica.

 

O Comité La Guardia, promovido em 1939 pelo Presidente da Câmara de Nova Iorque Fiorello La Guardia, foi o primeiro estudo aprofundado sobre os efeitos do tabagismo da marijuana. Contradizia sistematicamente as afirmações feitas pelo Departamento do Tesouro dos EUA de que fumar marijuana resultava em insanidade, e determinou que "a prática de fumar marijuana não conduz ao vício no sentido médico do termo". Lançado em 1944, o relatório enfureceu Anslinger, que estava a fazer campanha contra a marijuana, e condenou-a como não científica.

 

Após a Segunda Guerra Mundial, porém, a narrativa de Anslinger sobre a marijuana tinha mudado repentinamente. Em vez de dizer que esta droga promovia a violência e homicídio, disse:

 

"A marijuana leva ao pacifismo e à lavagem ao cérebro comunista".

 

Os Estados Unidos estavam, nesse momento a entrar no período da Guerra Fria, enquanto o medo do comunismo espalhava-se pelo país. Parece que sempre que estas pessoas estão a tentar justificar as suas políticas, não por causa da sua preocupação com a saúde pública, mas sim porque estão a tentar mexer com as emoções das pessoas à medida que a opinião pública também muda.

 

 

Nixon e a Guerra contra a Droga

 

Nos anos 60, à medida que as drogas se tornaram símbolos de rebeldia dos jovens, convulsões sociais e dissidência política, o governo suspendeu a investigação científica para avaliar a sua segurança e eficácia médica.





 

No entanto, os americanos começaram a preocupar-se menos com a marijuana à medida que mais e mais pessoas começavam a consumi-la, incluindo pessoas brancas. Isto significava que a narrativa espalhada por Anslinger e os seus aliados estava a desaparecer. Por outro lado, a droga que estava a preocupar as pessoas, na altura, era a heroína.

 

Assim, a narrativa em torno das drogas, que era utilizada pelo governo, teve de ser alterada. Isto coincidiu com a presidência de Richard Nixon, que tentou, tal como Anslinger antes dele, associar crimes violentos ao uso de drogas. Foi nesta altura que expressões como "assassinatos relacionados com drogas" começaram a aparecer no discurso político. Mais uma vez, tentavam associar o uso de drogas a crimes violentos, para justificar as suas ações.





 

De facto, a nova narrativa tentou estabelecer uma ligação entre o uso de heroína e o uso de marijuana, dizendo que se alguém consumir marijuana irá inevitavelmente usar heroína, uma substância muito mais perigosa, de acordo com o governo. Assim, Nixon tentou associar o uso de heroína com o uso de qualquer droga, como forma de "justificar" um controlo federal muito mais amplo sobre qualquer tipo de substâncias.

 

Em Junho de 1971, o Nixon declarou uma "guerra contra as drogas" (War on Drugs). Ele aumentou dramaticamente o tamanho e a presença de agências federais de controlo de drogas, e impôs medidas tais como sentenças obrigatórias e mandados de busca e apreensão de drogas. Isto significou que foram introduzidas sentenças mínimas e que a polícia podia simplesmente entrar na propriedade de alguém, sem qualquer aviso.

 

A Lei de Controlo de Substâncias foi aprovada, introduzindo algo chamado Drug Scheduling , um regulamento que ainda hoje se aplica. O Drug Scheduling dizia que os advogados, não os médicos, deveriam decidir e categorizar as drogas com base nos seus usos e potenciais perigos, algo que não estão, obviamente, qualificados para fazer.

 

John Daniel Ehrlichman foi conselheiro e assistente do Presidente para os Assuntos Internos sob o Presidente Richard Nixon. Ehrlichman foi uma influência importante na política doméstica de Nixon. Em 1994, ele proferiu as seguintes palavras numa entrevista:


 

“A campanha Nixon em 1968, e a Presidência Nixon depois disso, teve dois inimigos: a esquerda que era contra a guerra (do Vietname) e os negros. (...) Sabíamos que não podíamos tornar ilegal ser contra a guerra ou contra os negros, mas ao fazer com que o público associasse os hippies à marijuana e os negros à heroína, e depois criminalizando ambos fortemente, podíamos perturbar essas comunidades. Poderíamos prender os seus líderes, invadir as suas casas, acabar com as suas reuniões, e vilipendiá-los noite após noite nos noticiários noturnos. Sabíamos que estávamos a mentir sobre as drogas? Claro que sabíamos.”

 

- John Ehrlichman, a Dan Baum  para a Harper's Magazine em 1994, sobre a guerra às drogas do Presidente Richard Nixon.



Nixon e Ehrlichman



Como pudemos ver, a guerra às drogas nos EUA teve raízes no sensacionalismo e interesses económicos de Harry Anslinger e não numa preocupação real com a saúde pública. Foi priorizada a criminalização da marijuana, uma substância inofensiva quando comparada com outras drogas. Isto porque a proibição vinha, em parte, do racismo de Anslinger. A tentativa de associar a canábis com crimes violentos foi uma completa fraude, para tentar justificar as políticas anti-drogas. A legislação relativa à marijuana violava a própria constituição, levantando questões sobre a utilidade da Constituição como entrave aos caprichos políticos. E,  finalmente, o próprio conselheiro de Richard Nixon admitiu que as políticas contra as drogas eram uma tentativa de justificar a perseguição de inimigos políticos. 

 

Mas, no final, quem pagou não foram os políticos e burocratas que incentivaram tais medidas. Quem pagou foi o contribuinte americano, com milhões de dólares que até hoje estão a ser pagos para sustentar uma estrutura com origens duvidosas.


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