Coreia do Norte: o problema da sucessão





Apesar do suposto regresso de Kim Jong-Un, depois de ter sido considerado incapacitado, doente e até morto, ainda podemos colocar a questão: Se o ditador norte coreano morrer, o que irá acontecer à Coreia do Norte?


O problema da sucessão

A Coreia do Norte é uma ditadura hereditária que dura há mais de 70 anos, cujo poder se concentra totalmente numa única pessoa. Por isso, muito provavelmente, Kim já terá um plano de sucessão, apesar de ser, provavelmente, um dos segredos mais bem guardados do regime. Assim sendo, só nos resta fazer especulações sobre o assunto.





Todos os membros da família destacados a vermelho são os únicos que teriam legitimidade sanguínea para governar, tirando os dois líderes já falecidos (Kim Il Sung e Kim Jong-Il). Estima-se que o atual líder tenha 3 filhos, mas todos são muito jovens para governar. Kim Jong Un tem uma tia, Kim Kyong Hui, que poderia assumir a regência, mas não tem muitas aparições públicas, além de que o seu marido foi executado, talvez por ser opositor do regime.


Kim Jong Nam, o irmão de Kim Jong Un, assassinado por falar contra o regime


O meio-irmão de Kim Jong Un, Kim Jong Nam, foi assassinado no aeroporto de Kuala Lumpur, em 2017, por falar abertamente contra o regime. Isso tira, automaticamente, os seus filhos da linha de sucessão. Kim Sol Song, meia-irmã do atual líder, tem uma boa posição no escalão partidário, mas  não tem muita influência política, além de ser uma mulher. O anterior líder, Kim Jong-Il, teve mais dois filhos: Kim Jong Chol e Kim Yo Jong. O primeiro seria o herdeiro do trono por direito, mas foi impedido por não ter o "perfil" certo. E essa é a razão pela qual se tem falado tanto da segunda irmã, Kim Yo Jong para suceder ao trono da Coreia do Norte.


Kim Yo Jong

Nos últimos anos, Kim Yo Jong tem ganhado cada vez mais influência sobre os destinos da Coreia do Norte: tem representado o seu irmão em eventos no estrangeiro, dirige o Ministério da Propaganda do país e tem influência sobre a economia. Apesar disso, especula-se que o Partido dos Trabalhadores não iria reconhecer a sua legitimidade por ser uma mulher, por não ter influência no exército e porque ainda tem que subir alguns degraus na escada burocrática do Partido.

Diferentes possibilidades

Então e se não surgisse nenhum sucessor? Nesse caso, será de esperar que forças internas e externas tentarão preencher o vazio no poder. O Partido dos Trabalhadores poder-se-ia organizar para governar de forma "coletiva", opção que foi experimentada tanto na União Soviética após a morte de Stalin, como na China após a morte de Mao Zedong.

Partido dos Trabalhadores da Coreia


Se, por acaso, a situação ficasse descontrolada e ocorressem disputas de poder e conflitos internos, seria de esperar que a China interviesse. Isto resulta do facto de que a Coreia do Norte e o atual regime trazem-lhe vantagens militares e demográficas. Por um lado, evitar-se-ia a entrada de uma  vaga de refugiados norte coreanos no país e, por outro, a China precisa que o exército norte-americano não se aproxime da fronteira com a China, no caso de uma invasão. De algum modo, tentaria fornecer apoio ao regime se algo corresse mal.


O ícones vermelhos representam bases militares dos EUA localizados na Coreia do Sul. Teoricamente, as duas Coreias continuam em guerra (embora ambas tenham assinado um cessar-fogo)

Poderia ocorrer uma tomada de poder pelo Exército Popular da Coreia do Norte, em caso de perda de confiança no Partido ou por descontentamento deste órgão do regime. Este é o setor em que o governo norte coreano despende mais recursos e, por isso, o exército também sentiu o impacto de anteriores crises económicas e sanções contra o país. Se um novo governo não tivesse legitimidade aos olhos dos generais mais influentes, seria muito provável que se sucedesse um golpe de estado.




A Coreia do Norte é um regime ditatorial dinástico diferente dos seus semelhantes do século XX. Em média, ditaduras familiares costumam durar 32 anos, mas o da Coreia do Norte dura há mais de 70 anos! No século passado, 12 dos 18 regimes como este desmoronaram-se abruptamente. Gostaria de expressar aqui o meu desejo de que ditaduras como esta sejam derrubadas e a liberdade triunfe.

João Vidal



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2 Comentários

  1. Bom contributo para um melhor entendimento deste tipo de regime,que estando um pouco longínquo passa ao lado de muitas pessoas na Europa.Um abraço.

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  2. Excelente análise do regime ditatorial da Coreia do Norte.

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