Existe um mito de que ciência e religião são intrinsecamente conflituosas, ou seja, que não são compatíveis e que expressam visões opostas sobre o mundo. Mas, na verdade, existem bastantes evidências históricas que provam o contrário.
A "Idade das Trevas" ilumina-se
A Idade Média, em que a religião tinha um papel importante na sociedade, foi, na verdade, palco para muitos homens de fé que também se dedicaram à busca de conhecimento empírico e rigoroso. Temos o exemplo de Robert Gosseteste, que era um matemático e bispo de Oxford; Nicolau de Cusa, um filósofo, matemático, cardeal da Igreja Católica Romana e autor da obra Da Douta Ignorância, na qual defende que o Homem deve reconhecer a sua ignorância e procurar encontrar a verdade através da razão e experiência. Ele foi também o primeiro homem a formular a tese de um universo infinito.
Um desses exemplos mais conhecidos será Nicolau Copérnico, um cânone na catedral de Frombork, atual Polónia, e astrónomo que desenvolveu a teoria heliocêntrica do sistema solar.
Nicolau Copérnico (1473-1543) |
Podemos ainda dar o exemplo da Ordem dos Jesuítas, que promoveram estudos e descobertas científicas e ergueram centros de ensino secundário e universitário.
O calendário que usamos no nosso dia a dia foi produto da Igreja Católica. O calendário gregoriano, que teve a origem do seu nome no Papa Gregório XIII, foi desenhado de acordo com os eventos astronómicos regulares, para que a contagem do tempo fosse o mais rigorosa possível.
Além disso, a Idade Média foi o período em que começaram a surgir muitas universidades em várias cidades da Europa. No século XIII, foram fundadas universidades em Paris, Oxford, Cambridge, Roma e Coimbra. Aliás, em Coimbra, a universidade foi fundada em 1290 e dirigida por figuras da Igreja Católica da época, como frades, cónegos, sacerdotes e priores.
Quais os motivos para acreditarmos que existe um conflito entre religião e ciência?
Existem uns quantos momentos históricos que fazem sombra a toda a cooperação que existiu entre estas duas áreas do saber. Um deles foi o julgamento de Galileu por parte da Inquisição por afirmar que a Terra girava à volta do sol; outro foi o surgimento da teoria de Darwin sobre a evolução das espécies; ou talvez a perseguição e execução de homens da ciência por parte da Inquisição. Na verdade, não existem evidências de que qualquer homem da ciência tenha sido morto pela Inquisição no período em que esta esteve ativa.
São dados outros exemplos falsos que diziam que a Igreja Católica acreditava que a terra era plana, que tentou banir o número zero, os pára-raios e dissecações humanas, quando, na verdade, nada disso é verdadeiro.
Mesmo que fosse verdade, ainda não se poderia afirmar que existe um conflito intrínseco entre ciência e religião, uma vez que, a Inquisição e a Igreja Católica não são a Religião, são apenas instituições que dizem promovê-la.
Assim, ciência e religião, podem ser apenas duas formas diferentes de explicar o que nos rodeia: uma de forma mais metafórica e outra usando medidas e números rigorosos.
João Vidal
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