A política externa da China pode ser resumida num aspeto: a expansão da sua área de influência sobre o mundo, de uma forma subtil. São as jogadas sorrateiras no grande xadrez geopolítico mundial, que não devem ser ignoradas, e às quais se deve dar especial atenção, que fazem com que a China se esteja a transformar num verdadeiro império global.
Após o massacre da Praça Tiananmen, em 1989, a imagem internacional da China degradou-se, o que obrigou o governo a adotar medidas para resolver a situação. A solução foi ter uma política externa discreta e pacífica, que não interferisse diretamente com as pretensões das potências mundiais.
Rota da Seda do século XXI
A rota da seda foi uma rede de comércio estabelecida durante a dinastia Han da China no século II A.C. Era composta por rotas terrestres e marítimas, que se estendiam desde a costa oriental da China atravessando a Ásia Central, Turquia e Grécia, abastecendo o Império Romano. Ganhou o seu nome pela popularidade que a seda chinesa ganhou no ocidente, especialmente entre os romanos.
No século XXI, mais precisamente em 2013, surgiu um projeto de uma envergadura ainda maior. Foi chamada "Belt and Road", tendo sido também apelidada de Nova Rota da Seda. Foi lançada pelo presidente chinês Xi Jimping, estando previstos um conjunto gigantesco de investimentos em infraestruturas como caminhos de ferro, gasodutos e oleodutos e auto-estradas. Esta rede estender-se-ia novamente pela Ásia Central, alcançando a Europa, com rotas para a Índia e Paquistão e pelo Sudeste asiático. Prevê-se que o total dos gastos esteja entre 1.2 e 1.3 trilhões de dólares.
Mas por que quereria o governo Chinês gastar quase 10% do seu PIB anual num projeto de tão larga escala? É claro que não é desprovido de interesses. Este projeto tem um grande potencial de aumentar a influência política e económica chinesa sobre o mundo. Sessenta países (incluindo Portugal) já demonstraram interesse ou mesmo assinaram acordos para participarem no projeto.
Esta iniciativa iria aumentar o uso internacional da moeda chinesa, ganhando valor em relação a outra moedas. Além disso, a recente guerra comercial entre Estados Unidos e China obrigou o governo chinês a procurar um novo mercado para os seus produtos (mesmo que não tenha sido este o propósito original, revelou-se útil nos últimos dois anos).
Outro aspeto a ter em consideração é que a China pretende deixar de ser dependente das importações de produtos petrolíferos por via marítima. Isto porque a maioria dos navios petroleiros têm de atravessar o Estreito de Malacca, uma zona com forte presença naval americana e com vários casos de pirataria.
Expansão marítima
Nos últimos anos, a China tem reclamado soberania sobre o Mar da China Meridional, juntamente com os quase 60 trilhões de metros cúbicos de petróleo e gás natural que jazem aí. O problema é que existem outros interessados na região: o Brunei, Indonésia, Malásia, Filipinas, Taiwan e Vietname.
Nos últimos anos, imagens de satélite têm mostrado que governo chinês tem investido esforços para ocupar fisicamente a região. A maioria das ilhas da região não têm dimensão suficiente para se construirem bases militares e, por isso, foram transportadas milhões de toneladas de areia para aumentar o tamanho das ilhas artificialmente e mesmo para construir ilhas do zero. Nas ilhas foram construídos portos marítimos e instalações militares.
A nova Rota da Seda pretende ser o grande plano da China de se tornar um ator mundial, expandindo a sua influência económica e política a dezenas de países. Além do mais, os seus planos desafiam, quase diretamente, a hegemonia dos Estados Unidos sobre o mundo e talvez este seja um sinal de confirmação de que o poder da China vai muito mais além do que se podia imaginar.
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