A maior fraude da História! (Sapiens: História Breve da Humanidade)



" Durante 2,5 milhões de anos, os seres humanos alimentaram-se colhendo plantas e caçando animais que viviam e se reproduziam sem a sua intervenção (...). Tudo isto mudou há cerca de 10.000 anos quando os Sapiens começaram a dedicar todo o seu tempo e esforço a manipular a vida de alguns animais e plantas (...). Foi uma revolução no modo de vida dos seres humanos- A Revolução Agrícola. "
-Yuval Noah Harari 


Esta é uma passagem do livro "Sapiens: História Breve da Humanidade", escrito por Yuval Noah Harari, que é professor de História na Universidade de Jerusalém. Aí ele apresenta uma tese controversa: A Revolução Agrícola foi a maior fraude da História.

Yuval Noah Harari

Uma teoria controversa


As escolas e os académicos costumam ensinar-nos que esta fase da História da humanidade foi um grande salto em frente, em que os caçadores-recolectores puderam abandonar as suas vidas perigosas e duras para passarem a desfrutar de vidas muito mais agradáveis. Harari, um opositor desta teoria, chega mesmo a dizer no seu livro: "Essa história é uma fantasia".


Caçadores-recolectores 

Segundo o autor, a vida dos caçadores recolectores era mais estimulante do que a dos agricultores, além do facto de que havia menor risco de contraírem doenças. Apesar do aumento da quantidade de alimentos proporcionada pela Revolução Agrícola, a vida do Homo Sapiens não registou qualquer aumento de bem estar e lazer.

O culpado

Mas o que é que pode justificar tal teoria? Segundo o próprio autor, os culpados foram "uma mão cheia de espécies de plantas incluindo o trigo, o arroz e a batata". Foram estas plantas que domesticaram o homem, não o contrário.

Podemos até considerar o trigo a espécie de planta mais bem sucedida no planeta, graças ao ser humano. Nos dias de hoje, o trigo cobre cerca de 2,25 milhões de km quadrados de superfície, cerca de 25 vezes a área de Portugal.



Uma das explicações para que trigo tenha escravizado o Homem é o facto de que esta é uma planta muito exigente. O trigo não gosta de crescer em campos com pedras, outras plantas e ervas daninhas, por isso o ser humano era obrigado a trabalhar arduamente para limpar os campos. O trigo necessitava de muita água e nutrientes, pelo que o ser humano tinha que transportar grandes quantidades de água e estrume dos animais para o regar e fertilizar.

A verdade é que a fisionomia do ser humano não estava preparada para trabalhos tão árduos e por isso, a coluna vertebral, joelhos e pescoço não resistiram. Estes aspetos são observáveis na análise de esqueletos encontrados de Homo Sapiens daquela época.



O outro aspeto a ter em conta é que o ser humano é um animal omnívoro por natureza, pelo que os cereais são apenas uma pequena fração dos nutrientes necessários para uma dieta saudável. 

Além disso, ao focarem os seus esforços apenas em plantações de cereais, os homens estariam a colocar todos os ovos na mesma cesta. Isto quer dizer que, se houvesse um mau ano agrícola ou se as plantações fossem atacadas por uma praga, o seu trabalho tinha sido em vão e não teriam alternativas imediatas para se poderem alimentar. Na situação oposta estava a dieta dos caçadores-recolectores, que era muito mais variada e, se perdessem uma fonte de alimentos, teriam muitas mais à disposição.





O autor acredita que o Homo Sapiens agricultor não tinha mais segurança em relação a povos invasores do que os seus antepassados recoletores. Antes da revolução, os povos nómadas poderiam deslocar-se facilmente para outro lugar caso fossem atacados por um inimigo, mesmo que fosse algo difícil. No caso dos agricultores, caso um inimigo tomasse posse das terras ou as destruísse, seria muito mais difícil para a população da região se deslocar, pois estariam completamente dependentes dos seus campos agrícolas.

Muitos académicos não aceitaram de bom grado a teoria de Harari, por ser totalmente contra aquilo que se pensava até ao momento. Este pode ser um bom exemplo de como a História dos nossos antepassados pode ainda estar a ser escrita. É uma ciência cheia de segredos por desvendar, ensinando-nos que talvez tudo o que damos como certo sobre nós mesmos pode não ser verdade.

João Vidal

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